Capítulo 3: Um dia Especial



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Acordei, respirando intensamente.
- Tudo isso foi um sonho? Como? Desde quando?- pensei ainda deitada e com os olhos abertos com expressão de susto.
Novamente perguntas sem respostas vagavam minha mente, a confusão dentro de mim prevalecia de novo, acalmando a minha respiração levantei da cama e sentei na borda da mesma. Virei, olhei para trás e a cama estava no exato lugar de ontem, olhei para a janela e ainda estava aberta, finalmente virei para o relógio. Era sete da manhã, eu tinha que ir há escola e já estava praticamente atrasada. Sai correndo, porém ainda confusa da condição de sonhadora. Passei no quarto do meu pai e lá estava ele esparramado no meio da cama de casal. Fui diretamente para o banheiro que fica no final do corredor. Liguei o chuveiro, entrei de baixo do jato d'água e ali fiquei parada por cerca de cinco minutos pensando no nada, a temperatura da água do chuveiro me fazia entrar em um estado lúcido, algo que há muito tempo não sentia. Ainda não totalmente recuperada do traumático sonho, meu corpo começou a tremer de nervosismo, tomei meu banho e em mais ou menos mais cinco minutos o terminei. Saindo, peguei a toalha e me enrolei, fui até meu quarto, liguei a luz, abri o guarda roupa e me troquei rapidamente, porém com ambos os tênis fora dos pés. Só conseguia andar arrastando os pés no chão por não ter causado direito o tênis, o barulho do atrito era irritante. Passei novamente pelo quarto do meu pai, e o chamei com intuito de lhe acordar, como sempre faço todas as manhãs. Mas quando cheguei à porta e olhei para cama percebi que estava vazia. Fui em direção a escada para ir procurá-lo no primeiro andar, quando desci os primeiros degraus já podia sentir o cheiro de panquecas, bacon e ovo. Aquele cheiro me fez esquecer tudo, desci a escada levada por minha fome, e vontade de comer meu café da manhã preferido.


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Chegando há cozinha, lá estava meu pai que gritou assim que me viu:
- Feliz aniversário!- disse com a voz alegre e grave.
Com tantas coisas na minha mente, esqueci o motivo do meu nervosismo inicial, o meu aniversário.
- Obrigada, pai. - respondi enquanto olhava o prato cheio de panquecas que estava em cima da mesa.
- Já estou terminando aqui. O ovo já está quase pronto e o bacon também. - disse ele voltando a cozinhar.
- Quer ajuda?- perguntei.
- Não, você está atrasada. - disse ele pegando outro prato que estava em cima da pia e colocando o ovo e o bacon nele juntos.
- Ok, ok! - disse sentando na cadeira próxima da mesa e calçando o tênis direito.
Ele se aproximou com o prato de vidro transparente e o colocou em cima da mesa, foi até a geladeira e pegou a jarra de suco e o syrup e colocou-os também na mesa.
- Obrigada pelo café, gostei muito!- disse comendo o primeiro pedaço de panqueca.
- É o mínimo que eu posso fazer, mas você sabe...
- Pai, eu não preciso de presente ou festa, essas coisas representam o mesmo que esse café da manhã, você o fez com carinho, cuidado e amor. Esses são os três requisitos para o presente perfeito, eu sei da nossa situação, e não adianta eu reclamar, pois não vai ser isso que vai mudá-la. - o interrompi olhando diretamente para seus olhos e sorri assim que acabei de falar.

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Ainda de pé e olhando para mim ele sorriu de volta e não falou nada. Apenas sorriu e colocou a mão na minha cabeça, no mesmo instante meu corpo paralisou, novamente o sonho me atingiu. Tirando a mão de mim meu pai disse:
- Você está bem? Aconteceu alguma coisa? A comida está ruim?- ele perguntou desesperando.
- Não... não, estou bem sim! A comida está ótima, não precisa se preocupar. - respondi sentindo meu corpo voltando ao normal.
Olhei para o relógio, faltava menos de dez minutos para eu estar na escola, passei a comer praticamente igual ao um homem das cavernas, assim que coloquei o ultimo pedaço de bacon que estava no prato na boca, sai correndo para o banheiro, dei a volta pela sala e subi a escada correndo, cheguei ao final do corredor e entrei no banheiro, escovei os dentes e passei a maquiagem mais básica e rápida. Após dois minutos tinha praticamente mais sete minutos para estar na escola, sai correndo voltei a cozinha, abri a porta que estranhamente estava em perfeitas condições e já do lado de fora, mas ainda com a porta aberta disse:
- Tchau, pai!
E ele que já estava na sala assistindo televisão disse:
- Tchau, espero que aproveite o dia!
Fechei e tranquei a porta, olhei para trás e vi a entrada do porão, ignorando qualquer sintoma da lembrança do sonho virei para o lado que estava antes e sai correndo.


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Atravessei a lateral da casa, passei pelo quintal, abri, passei e fechei o portão, fui para o lado direito e lá como todos dias estava a Sra. Mariah e seu cãozinho.
- Feliz aniversário, Clair!- ela gritou com a voz cansada e gentil de sempre.
-Obrigada!- respondi um pouco mais afasda e em um tom mais elevado.
Por sorte a escola ficava três quadras da minha casa e não como no ano anterior que era praticamente do outro lado da cidade, corri até chegar na penúltima quadra, pois avistei algumas pessoas com uniforme da escola. O uniforme era algo opcional, mas eu nunca usava simplesmente porque não gostava. Faltando aproximadamente um minuto, cheguei há escola junto com varias pessoas. Subi a grande escada branca e entrei, não consegui ver ninguém conhecido. Meu armário é perto da minha primeira classe e ambos ficam próximos da entrada da escola, novamente a sorte estava do meu lado, abri o armário destrancando o cadeado, peguei o livro, caderno e o estojo coloquei-os debaixo do braço esquerdo e tranquei o armário. Desesperada, pela falta de tempo, deixei todo o material cair.
-Ainda bem que não tem mais ninguém nesse corredor - pensei.
Pelo menos era isso que eu achava, assim que eu abaixei e estendi a mão para pegar o caderno que estava aberto e virado com as folhas para baixo toquei em outra mão,


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uma mão fria e masculina que pegou o caderno antes de mim, desencostei rapidamente e levantei o pescoço, lá estava Tomas, agachado me ajudando, ele levantou já segurando todo o material e disse enquanto usava as duas mãos como apoio:

- Está aqui!
Levantei também e peguei tudo de suas mãos.
-Obrigada! Eu sempre me atrapalho com essas coisas... - disse envergonhada e arrependida de ter desesncostado as mãos da dele.
- Não tem problema. - disse ele com a voz suave e calma que me fazia ter calafrios.
- Ei, hoje é seu aniversário, não? - ele perguntou.
- É sim!- respondi quase que instantaneamente.
- Então... feliz aniversário Clair!- ele disse dando um sorriso apenas com os lábios.
Totalmente envergonhada disse:
- Obrigada!
Ele sorriu novamente e virou para onde tinha deixado o material dele, em um banco grande e azul que se estendia entre as portas das duas salas que se encontravam na parede oposta dos armários. Fui atrás ainda com o meu material debaixo do braço e apressei o passo para chegar primeiro que ele nos poucos passos de distancia que existia entre as paredes do estreito corredor. Por um décimo de segundo cheguei antes, mas tive que colocar o meu material no mesmo banco, após peguei um dos livros,


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porém ele já havia pego o primeiro que tinha uma capa azul assim como o que eu peguei, na mesma hora o terceiro livro caiu no meu pé esquerdo, era um livro grosso assim como todos que estavam empilhados no banco e com a capa vermelha. Na hora dei um pulo para trás, e segurei o grito de dor:
- Já basta ter me atrapalhado antes. - pensei.
Antes que eu percebesse estava caindo, faltando menos de meio metro do chão Tomas me segurou com um dos braços em uma velocidade incrível.
- O que foi isso? - falei sem pensar.
Ele não respondeu apenas me levantou. Ainda me segurando pela cintura com suavidade, chegou cada vez mais perto obstruindo os poucos centímetro de distancia que existia entre as nossas faces, eu pensando no obvio cedi completamente aos meus desejos, no mesmo momento:
- Baaaaaaaaan!!! - o sinal tocou.
Antes que os nossos lábios se encostassem, ele me soltou pegou todo os livros rapidamente, inclusive o livro vermelho que estava no chão e saiu correndo na direção oposta.
- Até mais tarde, Clair! - ele disse virando em uma das entradas do corredor e acenando com a mão.
Não conseguia entender, por um momento sentia que tanto como eu ele queria aquele beijo, mas em outro momento era como se ele tivesse se arrependido e disfarçado, como se alguma coisa o impedisse. Mais uma duvida a colocar na minha enciclopédia.
Peguei minhas coisas que estavam no banco e fui até a porta da sala, chegando vi meu reflexo de cores transparentes,

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porém não o suficiente para que eu não pudesse visualizar meu rosto totalmente avermelhado, e o pior que eu não estava de blush. Girei a maçaneta dourada e entrei, a porta rangeu alto, não permitindo que a minha entrada na classe fosse despercebida, entrei provavelmente mais vermelha que já estava.
-Posso entrar Sr. Mcfaster?- perguntei em um tom baixo.
Sr. Macfaster é um professor completamente chato e tedioso, rigoroso e sempre repete as mesmas coisas nas aulas. É gordo e um pouco menor que eu. Sou baixa, mas perto dele me sinto alta. Tem marcas de expressão por todo o rosto arredondado.
O professor olhou para mim e disse:
-Claro, Clair. Hoje estou de bom humor...- disse ainda olhando para mim.
Virei o rosto totalmente envergolhada e me sentindo um tomate, sentei na penultima carteira da primeira fileira do lado de Tifanne, mas não porque escolhi, era a ultima que havia sobrado. Virei para carteira da Tifanne e sorri apenas com os labios, ela virou para mim e sussurou:
-Feliz aniversário, Clair.
Na mesma hora ouvi o professor pedindo para todos abrirem na pagina 119 do livro de biologia.
-Obrigada!-respondi também sussurando.
-Parem de conversar vocês duas.- disse sem virar para trás o menino que estava na minha frente.
-Sem reconhecer quem era, virei para a frente e disse sussurando:
-Foi mal!
Ainda com o professor explicando a matéria o menino virou e disse rindo baixo:


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-Quem você pensou que fosse?
No mesmo momento eu e Tiffane dissemos juntas:
-Chris...
-Calma, o que eu fiz?- perguntou Chris indignado.
Nós duas rimos, Chris é um amigo de classe que sempre foi engraçado e gentil com nós duas, ele tem cabelos ruivos amarelados e pardo e com algumas espinhas no rosto.
-Vocês três... virem e prestem atenção.-o professor nos repreendeu.- Ou melhor, Chris... responda, qual é o tipo de fermentação usada pelas frutas, que é reconhecida pelas moscas?- completou.
-O senhor não disse que estava de bom humor hoje professor?-disse Christian tentando enrrola-lo.
-E ainda estou!-respondeu alto, quase cortando a voz de Chris.
Eu já sabia a resposta de tanto o professor explicar a mesma coisa. Então, quando o professor virou por um instante, sussurei para Chris que estva na minha frente:
-Fermentação alcoólica! CO2 e Álcool.
-Ok, valeu Clair...- Chris foi interrompido.
-Então Sr. Detch, qual é a resposta?
-Alcoólica, professor.-respondeu Chis.
-Ok... mas da proxima vez deixe ele responder por sí Clair.-disse o professor virando olhos para mim.
Uma única risada do outro lado da sala começou na mesma hora.
-Qual é a graça Srt. Seaol? - perguntou o professor a Sarah.
-O que era a segunda coisa que você falou pra mim?- disse Christian me atrapalhando ouvir o Sr. Mcfaster.
-Eu achei que ele ia fazer outra pegunta.- respondi.
-Como...- ele indagou.
Nesse momento o professor subiu a voz e perguntou a Sarah:
- Ok, senhorita Seaol, então qual é o resultado da fermentação alcoólica?


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Olhei para ela que estava com uma expressão de quem estava sobre tensão.
-Tipo essa?-Chris perguntou.
-Sim! Exatamente essa- disse rindo.
-Ah é! Feliz aniversário Clair.- falou Chris.
Sorri apenas com os lábios e desviei o olhar para o professor, que estava anotando algo e olhando para Sarah. Virei para Tifanne e disse baixo:
-Depois tenho que te contar uma coisa.
-Tifanne virou, ajeitou seu pingente dourado em formato de nave espacial e disse:
-Sobre o que?
-Depois te falo!
-É sobre o vampiro?-perguntou, Tiffane é uma hiper fã desses livros de vampiros e acha que o Tomas é uma especie de vampiro, diz ela que é porque ele é meio frio.
-Eu já te disse, ele fica direto na água e o clima dessa cidade não ajuda a esquentar ninguem.-respondi rapidamente.
-Sei, sei.-Ela respondeu.-Mas duvido que você não quisesse que fosse um vampiro.-completou.
-Não...eu só quero que ele seja quem ele é.-respondi.
Assim que acabou as duas aulas de biologia contei tudo a Tiffane e Christian que parecia estar desesperado pra fugir da conversa.
-Não te falei?! Ninguém consegue ser tão rapído assim.-Tiffane disse como se isso provasse que ela estava certa.
-Tiffane, não mistura a realidade com a ficção ele não é um vampiro.-falei cortando a felicidade dela.
Christian riu e disse:
-Que melodrama...
Eu e Tiffane novamente falamos juntas:
-Chris...
-O que foi? Posso sair agora?-perguntou.
-Foi você que quis vir aqui ouvir.- disse Tiffane.
-Mas eu achei que fosse sobre um assunto legal a conversa.- ele se explicou.


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Para mim aquela conversa era muito mais que legal, pois isso significava que a minha paixão por Tomas não era tão platônica. Mas, realmente no lugar de Christian não me interessaria.
- Tudo bem Chris, paramos já.- falei.
- Eai Clair, vai fazer alguma coisa na sua casa hoje?-Tiffane perguntou.
- Não... -respondi rápido, tentando disfarçar achando que poderia fazer parte do plano deles de me levar até a casa de Stefanni.
- Então vamos ao cinema hoje? Chris perguntou.
- Pode ser... -disse confusa.
- Mas... que horas?- perguntei.
- Não sei, tem que ver qual vai ser o filme antes. -disse Chris.
- Eu vejo hoje na internet e aviso para vocês depois. -falou Tiffane.
- E a Stefanni? -Chris perguntou.
Estava achando tudo aquilo muito estranho, Chris é nosso amigo de classe e até então era só, nunca saímos com ele.
- Nós falamos com ela quando bater o sinal pra o recreio. -disse Tiffane.
A professora entrou pela porta.
- Mais uma aula chata. –pensei.
Sra. Fretz é uma mulher legal e gentil, tinha os cabelos castanhos, assim como seus olhos atrás de seus óculos de fundo de garrafa, magra e com a pele morena. A professora em si é legal, mas física é entediante. A aula passou sem que eu percebesse, não conversei com Tiffane ou com Christian, apenas fiquei pensando sobre como eles poderiam me levar na casa de Stefanni sem que eu suspeitasse, aliás, o caminho do cinema é bem diferente do da casa dela e principalmente sobre Tomas e minha paixão menos platônica, além das lições de física. O sinal tocou, achei estranho parecia que tinha passado tudo muito rápido. A professora abriu a porta para liberar a saída dos alunos que já estavam todos de pé. Enquanto todos já estavam saindo, eu estava de pé ainda fechando meu livro, quando me virei para sair aparece do meu lado Tifanne que falou que ela


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mesma falaria com Stefanni e que eu não precisava me preocupar.
- Tudo bem... –disse, pensando que iriam bolar uma maneira de me fazer ir à casa de Steffani.
Enquanto isso, fui para a cantina da escola, era bem grande, mas ainda assim cabia um pouco menos da metade dos estudantes. Sentia-me como nos primeiros dias nessa escola, estava isolada de amigos ou conhecidos. Entrei na cantina, mas não para comer. Procurei entre as varias mesas uma em tivesse alguém que pelo menos eu conhecesse, depois de um tempo andando envolta e procurando achei uma. Não muito distante, andei até lá e disse:
- Posso sentar?
- Pode sim! – disse Charlotta uma amiga de classe de Stefanni.
- Eu praticamente não falava com a Charly, Stefanni era a única pessoa do segundo ano que eu realmente tinha algo para conversar, porém estava tão apreensiva com os meus pensamentos contínuos que precisava me distrair. Sentei na cadeira, as mesas eram octogonais então tinham oito bancos sem apoio para as costas que cabiam três ou quatro pessoas cada, mas na mesa só estava eu e Charlotta. Sentei em um banco que me deixava de frente para ela, e comecei a conversar com ela sobre filmes, depois sobre os professores e até sobre Stefanni, enfim o tempo de recreio passou rápido. No meio de uma das nossas nossas conversas, Charly olhou para o relógio do celular e disse:
- Faltam cinco minutos para bater o sinal, vou indo... se não... não vou conseguir pegar minhas coisas no armário em tempo ele fica muito longe tanto da classe quanto daqui.
-Tudo bem! –disse.
Charlotta virou seus cabelos ruivos, longos e encaracolados para o lado oposto e levantou. Virou novamente para mim e disse:
-Até mais tarde, Clair.


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Quando ela terminou de falar sua pele parda começou a ficar branca e logo após vermelha, suas sardas quase que imperceptíveis aparecem como nunca. Ela virou e saiu correndo passando pela porta da cantina antes que eu falasse qualquer coisa.
- Se eu já não soubesse isso ia ajudar bastante. – pensei ainda sentada.
Levantei, minha próxima aula era no laboratório que era bem longe do meu armário, mas antes precisava ir ao banheiro que ficava perto da entrada da cantina. Atravessei a porta da cantina e logo cheguei ao banheiro. Após sair do banheiro estranhamente vazio me deparei bem à frente da porta do laboratório de biologia, olhei pelo vidro e vi que uma das classes do terceiro ano, mais precisamente a de Tomas, estavam tendo aula com o Sr. Mcfaster. Fique olhando para Tomas fixamente e já quase perdida em meus desejos ele olhou para mim. Vermelha como nunca, aliás, ele me viu praticamente babando por ele em flagrante, percebi que ele se levantou interrompendo a explicação do professor, foi até ele, conversou em um tom extremante baixo com o professor por alguns segundos e logo após veio em direção a porta enquanto o Sr. Macfaster retornava a explicar a aula. Fiquei assustada ele estava saindo da classe por minha causa e estava indo em minha direção. Ele abriu a porta olhando para mim através do vidro da porta, assim que saiu fechou a mesma e sorriu mostrando os dentes brancos e perfeitos.
-Como vai Clair?- perguntou Tomas.
-Bem... - disse ainda vermelha.
-O dia foi bom até agora? – disse ele rindo.
-Na escola... acho que nenhum dia é bom. – disse também rindo.
-Vamos sair de frente da porta o professor está achando que eu estou no banheiro. - disse ele ainda rindo. – Para onde estava indo?- perguntou.
- Para o meu armário. –disse ficando mais envergonhada ainda.
-Ah... – disse ele ficando vermelho. – Então... tá bom, vamos lá.- completou.


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Enquanto andávamos pelo corredor ele colocou os dois braços atrás da cabeça, não pude parar de reparar que assim que fez isso sua camisa completamente branca subiu mostrando seu abdômen definido.
-Chegamos, é aqui não? - perguntou ele, tirando os braços da cabeça.
Virei para direita olhando a numeração nos armários e disse:
- É sim. – falei com uma voz de alegre. – Ele está logo ali, 127. – completei ainda no mesmo lugar apontando para o armário.
Fui até lá e percebi que ele foi atrás.
- Você vai ter aula de que agora? – Tomas perguntou.
- Química, no laboratório. –respondi rapidamente.
- Ah... então... não tem problema, porque é só estojo e caderno, não? – perguntou rindo enquanto eu destrancava o armário.
- Hum, hum! – respondi sabendo que ele estava se referindo a não haver probabilidade de eu deixar o material cair. – Estão bem aqui.- disse pegando-os, colocando-os de baixo do braço, trancando o armário, pegando o estojo e o caderno e segurando-os um em cada mão.
- Quer ajuda?- perguntou Tomas.
- Não, obrigada! –disse.
-Tudo bem! – falou ele fazendo a mesma posição com os braços e começando a andar.
Fui atrás.
- Não era para você me acompanhar? – disse rindo.
- Desculpe...- disse ele com cara de quem estava desligado e pensativo e com a voz rouca e baixa.
Assim que fiquei do lado dele ele voltou a andar, ainda com os braços para trás da cabeça e com cara de pensativo olhando fixamente para frente.
- Sabe Clair... –disse ele com uma voz baixa e calma. – sobre hoje de manhã...- na mesma hora fiquei vermelha novamente. – queria pedir desculpas...- terminou.


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- Não precisa se preocupar... – disse com a voz baixa e totalmente envergonhada.
Nesse mesmo momento ele olhou para o relógio e disse como uma voz de espanto e alivio:
- Tenho que ir! O Sr. Mcfaster vai quer me matar já.
- Mas falta praticamente um minuto para bater o sinal, é só você ir direto para outra classe. – falei.
- A aula é dupla, e mesmo se fosse o caso eu precisaria pegar meu material. - explicou, enquanto me sentia uma burra.- Além do mais o Rafhael vai quer me bater, ele é a minha dupla de laboratório. – disse rindo e já correndo na direção contraria.
- Até mais tarde! – falou de longe, quase não dando para escutar.
Virei.
- Até a festa! Respondi em meus pensamentos.
Andei até o laboratório que já estava a alguns passos de onde estava. Abri um dos lados da grande porta de vidro e percebi que já havia algumas pessoas lá entre elas Tiffane que acenava para mim. Chegando um pouco mais perto pude a ouvir falando em altura mediana:
- Senta aqui!
Sentei do seu lado, sendo assim sua dupla. Coloquei meu estojo e caderno de baixo da mesa de mármore em um suporte madeira.
- Falou com a Stefanni?- perguntei.
- Falou...!? sobre o quê? Como assim?- disse ela rapidamente e com uma voz de espantada.
- Sobre o cinema. O que mais poderia ser? – disfarcei.
- Ah... falei sim. – respondeu engolindo a saliva.
- E então... tá tudo certo mesmo?- perguntei fingindo ingenuidade.
- A Stefanni falou que a principio ela vai, mas que não tem certeza por que pode ser que ela saia hoje.
- Eles pensaram em tudo isso hoje?- pensei espantada.


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- Tudo bem, então.- disse.
- Eu ainda nem se quer falei com ela hoje. - falei, mas sinceramente não estava sentindo tanta falta graças ao irmão dela. -Será que ela lembra que hoje é meu aniversário? – disse rindo.
Tiffane começou a rir.
- Claro que sabe! Ela te procurou praticamente o recesso inteiro e não te encontrou, onde você estava?- perguntou parando de rir.
- Conversando com a Charlotta.-respondi.
- Sério? Sobre o que conversaram? – disse rindo disfarçando a preocupação de Charly ter falado algo sobre a festa.
- Nada de mais... varias coisas. – respondi sabendo o objetivo da pergunta e fazendo cara de paisagem, por que o que Tiffane queria não era que eu falasse se Charly tocou falou da festa ela sabe que se fosse o caso eu não iria tocar no assunto, o objetivo dela era ver a minha reação assim que ela perguntasse. Assim, fazendo com que ela sentisse segura de que eu não sabia de nada.
Ela riu novamente.
- E você só ficou com ela esse tempo todo- perguntou.
- Não, fiquei um pouco com o Tomas. - respondi.
- Mas o recesso do terceiro ano não na mesma hora que o nosso, o deles já passou. –Ela afirmou. - Como você conseguiu ficar com o vampiro?- perguntou chamando-o de vampiro só para me perturbar.
-Ele falou pro Sr. Mcfaster que ia ao banheiro. Isso foi quase agora. – ri enquanto explicava ignorando a parte do vampiro.
Nessa hora varias pessoas entravam pela porta e sentavam se. Após todos se sentarem aparece a Srta. Withgood, a professora de química. A Srta. Withgood tem aproximadamente uns 28 anos tem cabelos castanhos, olhos verdes, alta e sempre bem vestida. E sempre está de bom humor. Ela entrou na classe e mandou todos fazerem o que ela tinha explicado última aula. Eu não lembrava, então olhei no meu caderno para ver se eu tinha anotado



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e realmente tinha, era simples, uma pessoa mistura as substâncias e a outra anota as reações.
- Tiffane, você vai quer misturar ou anotar?- perguntei.
O sinal tocou.
Ela que passou a olhar para mim disse:
- Misturar, com certeza!- disse com enfase no “certeza”, ela adorava ter a chance de explodir algo por acidente.
- Ok! -Disse sorrindo apenas com lábios.
Fomos as primeiras a acabar, então pude conversar direito com Tiffane sobre o que aconteceu com Tomas.
-E você ainda duvida que ele gosta de você?- ela perguntou com cara de indignada.
-Eu não sei...ele tem dezoito anos eu fiz dezesseis hoje, sem contar a diferença de tamanho que é bem grande. – falei enquanto fazia cara de inferiorizada.
-Tá... e... – ela disse pausadamente. -Não entendi o problema ainda. – Falou com um tom bravo.
-Eu sei... – disse derrotada.
A professora chamou a nossa atenção. Ficamos caladas o resto da aula, ou seja dois minutos depois, quando bateu o sinal. Após todos saíram pegaram seus materiais e todos foram para a sala, esperando as próximas aulas. O resto do dia na escola foi tedioso e cansativo, entre outros vários adjetivos que definem a palavra escola. Tiffane quando chegou à classe sentou perto de Chris que estava bem longe de mim então fiquei praticamente isolada, enquanto ouvia os dois rindo longinquamente durante praticamente todo o período restante de aula. Assim que e todas as aulas acabaram o Sr. Hirtz professor de história abriu a porta e todos os alunos saíram da sala se fragmentando pelos corredores para guardar o material nos armários e para pegar os livros que fossem pra estudar e novamente se juntaram na porta da frente juntamente com todos os outros alunos da escola, o portão foi aberto e todos foram embora desesperados, descendo pela grande escadaria branca da escola.
SPEECHLESS - O OUTRO MUNDO / © COPY RIGHT